Gerou grande repercussão, na semana transcorrida, a morte brutal dos dois soldados da Brigada Militar na zona leste de Porto Alegre, recebidos a tiros em um beco no Bairro Partenon, quando em policiamento que visava à repressão ao tráfico de drogas. E não poderia (e nem deveria) ser diferente. A atenção dada às ações policiais pelas mídias e pela própria sociedade tem se avultado nos últimos tempos. As ações dos representantes da segurança pública nunca foram tão controladas. Isso não é algo ruim, entretanto, o que se percebe é que a ênfase geralmente é dada quando as condutas policiais refletem algum erro ou, mesmo quando absolutamente corretas para o contexto, trazem como consequência resultados não desejados, como a morte ou lesão dos infratores.
A morte de policiais em serviço ou fora dele, mas em face da sua função e da sua consequente obrigação profissional e moral para com a sociedade, é um tema pouquíssimo explorado pela literatura da área. Em contrapartida, estudos versando sobre equívocos ou abusos nas ações policiais são habituais e recorrentes. Por certo esse desinteresse afeta a percepção dos policiais sobre a atenção que o Estado e a própria sociedade dedicam ao respeito às suas vidas e às suas integridades físicas. Parece-nos, de fato, haver dois pesos e duas medidas aqui.
Os poucos estudos existentes mostram que, quanto menor o número de policiais envolvidos na atividade ou no apoio, maior é o número de mortes. Por óbvio, o contrário é verdadeiro: na medida em que se aumenta o número de policiais envolvidos nas operações e no apoio, o número de mortes reduz drasticamente. Quando analisamos essa simples premissa, que é apontada por pesquisas técnicas, percebemos que a maior parte dessas mortes poderia ter sido evitada caso o Estado apresentasse uma maior e melhor estrutura de trabalho a esses policiais, que deveria ir desde treinamento intensivo e constante, até o aumento do efetivo policial, perpassando por outras medidas de gerenciamento de risco.
Para além disso, sequer precisamos de trabalhos científicos para afirmar que policiais bem treinados, com respaldo estatal e seguros por certo desempenhariam suas atividades com muito mais destreza. A carência de treinamento, a falta de estrutura do Estado, o efetivo precário dentre inúmeras outras insuficiências tornam esses policiais verdadeiros heróis. Não só porque alguns padecem em defesa da sociedade, mas sim porque todos eles colocam suas vidas em risco em prol dessa mesma sociedade que rotineiramente os desmerece, sem considerar que eles igualmente são vítimas da (des)estrutura social, da crise governamental, dos desmandos políticos.
Nesse cenário de guerra muitos se levantam para proteger os hipossuficientes. Mas quem se levanta para proteger os policiais? Quem se insurge para cobrar os direitos deles perante o Estado? Quem emerge para gritar por seus direitos humanos, pelos direitos de seus pais, de seus filhos, de suas esposas e maridos? Quem protege aqueles que nos protegem?